A lista de excelentes meio-campistas que o Brasil teve é extensa, de Danilo Alvim nos anos 1950 a Mauro Silva nos anos 1990, passando por Bauer, Clodoaldo, Toninho Cerezo ou Dunga, mas o único que foi bicampeão mundial em 1958 e 1962 Era Zito. Nascido em 8 de agosto de 1932 em Roseira, Valle del Paraíba (Brasil),Jogava como médio-defensivo. Jogador de futebol muito completo, tanto seu trabalho para criar um jogo quanto para destruí-lo foi fantástico. Dinâmico, forte, eficaz e trabalhador, tinha boa técnica e magnífico domínio da bola. Ele era conhecido como o “Treinador” por seu caráter e liderança em campo.
![]() |
Gol de cabeça na final da Copa do Mundo de 62 |
Começou a jogar futebol em times locais como EC Roseiras, Estudiantes de Pindamonhangaba ou São Paulo de Pindamonhangaba. Em seguida, vestiu a camisa do Esporte Clube Taubaté por três temporadas e em 1952, aos 20 anos, assinou pelo Santos. Ali viveria a fase mais esplêndida da história da entidade em que se tornou o melhor time do planeta.
Com sua chegada e antes da aparição de Pelé, o time santista já tinha um elenco no qual se destacavam Tite, Vasconcelos, Del Vecchio, Álvaro, Antoninho ou o goleiro Manga. Ele estreou em uma partida contra o Río Madureira, na Vila Belmiro, que terminou com a vitória do Santos por 3 a 1. No entanto, suas primeiras campanhas no Santos foram passadas como substituto de Chico Formiga e só em 1956 conseguiu uma vaga no time.
O time paulista havia conquistado o Campeonato Paulista no ano anterior e naquele ano o revalidaria à frente do São Paulo. Pelé já fazia parte do time titular e os sucessos nas temporadas seguintes foram uma constante. No meio-campo, era inseparável de Mengalvio, o objetivo de ambos era construir o futebol e sacar bolas para o fabuloso ataque formado por Dorval, Coutinho, Pelé e Pepe. O restante dos onze foi formado por Gilmar no quadro e Lima, Mauro, Calvet e Dalmo na retaguarda.
Mais um Campeonato Paulista foi conquistado em 1958, mas a grande hegemonia aconteceu no início da década de 1960. O técnico Lula construiu um time rochoso, competitivo e cheio de qualidade que fez os torcedores do seu país e do mundo se apaixonarem. Desta forma, os troféus do Campeonato Paulista de 1960, 1961 e 1962 e as Taças de Brasil do ano de 1961 onde venceram o Bahia na final e o do ano seguinte em que derrotou o Botafogo após superá-los no confronto adornou as vitrines do clube voltar 0-5.
Mas se o ano de 1962 é bem lembrado na história do Santos, não é por esses títulos, mas pela conquista da Copa Libertadores pela primeira vez. No caminho para a vitória, se livrou de Cerro Porteño e Deportivo Municipal na primeira fase e Universidad Católica nas semifinais. Na final, eles derrotaram o atual campeão Peñarol após um duelo nos playoffs em Buenos Aires. Esta ferida permitiu-lhes disputar o título mundial de clubes após o verão contra o Benfica de Eusébio. O jogo de ida no Maracanã foi resolvido por 3 a 2 a favor do Santos e no jogo de volta em Lisboa, o capitão Zito completou uma de suas melhores atuações com a camisa alvinegra. Ele marcou dois gols para Pelé e Coutinho na vitória do Santos por 2 a 5 sobre o Benfica em seu estádio para se sagrar campeão da Copa Intercontinental.
Em 1963 a temporada santista foi semelhante e a Taça de Brasil vencida contra o Bahia foi seguida por outra Copa Libertadores e outra Copa Intercontinental. No torneio sul-americano, nem o Botafogo nas semifinais nem o Boca Juniors com Marzolini, Simeone, Rattin ou Sanfilippo conseguiram contê-los em seu objetivo de reconquistar a Libertadores. Enquanto no Intercontinental quem afundou o joelho foi o Milan. No jogo de ida em San Siro os cariocas venceram por 4 a 2 e no jogo de volta no Maracanã o mesmo resultado foi dado a favor do Santos. Por isso, teve que recorrer a um playoff dois dias depois no templo do Rio de Janeiro, onde um gol solitário de pênalti de Dalmo deu o título ao time capitaneado por Zito.
O próximo curso não conseguiu a terceira vitória consecutiva na Libertadores quando caiu contra o Independiente de Avellaneda, mas continuou a reinar em casa ao vencer o Campeonato Paulista e a Taça Brasileira. O meia Roseira ampliaria ainda mais seu currículo com mais dois Campeonatos Paulistas, em 1965 ao vencer o Palmeiras e em 1967 ao vencer o São Paulo, pouco antes de encerrar uma carreira fantástica. Aposentou-se aos 35 anos e depois de ter disputado 727 jogos e marcado 57 gols com a jaqueta do Santos.
![]() |
Brasil 1958 |
![]() |
Santos 1962 |
Com a Seleção Brasileira foi internacional em um total de 46 jogos, marcando três gols. Ele estreou em um confronto da Copa Oswaldo Cruz de 1955, que os colocou contra o Paraguai com um resultado de 3 a 3. Zito substituiu Roberto Belangero e com esse empate a seleção brasileira conquistou o título. Um ano depois, o Campeonato Sul-Americano foi disputado no Uruguai, onde foi convocado pelo técnico Osvaldo Brandão para o torneio. Eles só jogaram a partida contra o Chile em que o Brasil deixou uma imagem ruim após ser derrotado por 1 a 4. O resto da competição também não foi muito melhor e o verde-amarelo terminou em quarto lugar.
Em 1957, o Campeonato Sul-Americano foi realizado no Peru. Mais uma vez Brandão o incluiu na lista, mas a história da edição anterior se repetiu quando ele estava apenas alinhado em um duelo. Foi na quarta rodada contra o Uruguai que derrotou o Brasil por 3 a 2 em uma grande tarde por Luis Campero. Esse triunfo Charrúa foi fundamental para o futuro do torneio, já que os brasileiros ocuparam a segunda posição do Campeonato, apenas dois pontos atrás da Argentina.
Alguns meses depois enfrentaram precisamente a albiceleste na Copa Roca. O primeiro jogo no Maracanã também foi a estreia de Pelé, que não fez uma grande estreia quando a Argentina venceu a partida por 1 a 2. A segunda partida foi disputada no Pacaembu e foi a primeira vitória oficial de Zito com a Seleção. Um gol de Altafini e outro de Pelé deram a vitória por 2 a 0 com a qual venceram o torneio.
No verão de 1958, a Copa do Mundo foi realizada na Suécia. O treinador na época era Vicente Feola, cuja primeira decisão foi deixar Zito no banco. No entanto, a partir do terceiro dia da fase de grupos, ele sentou Dino Sani e deu ao meia santista uma oportunidade que não perdeu. Seu parceiro no meio-campo foi Didí, formando uma combinação fantástica que foi fundamental para o sucesso em terras escandinavas. O Brasil caiu no grupo 4 com Áustria, Inglaterra e URSS. Com Zito ainda fora do onze, venceu a Áustria e empatou com a Inglaterra. O duelo contra a URSS foi importante para conhecer o líder do grupo e graças a dois gols de Vavá, eles se curvaram aos soviéticos. Nas quartas de final o adversário foi um duro País de Gales com Ivor Allchurch e Cliff Jones na frente, que seria nocauteado por um gol solitário de Pelé. As meias-finais no estádio Rasunda colocaram-nos frente a frente com uma poderosa França liderada por Kopa e Fontaine. Zito fez uma boa exibição e após a vitória por 5 a 2 a seleção brasileira disputaria a primeira final do torneio. Seu rival era o time anfitrião com uma das melhores gerações de sua história. Bergmark, Liedholm, Hamrin, Gren ou Skoglund fizeram uma grande luta, especialmente no primeiro tempo. No entanto, o plantel com Djalma Santos, Nilton Santos, Zito, Didí, Garrincha, Pelé e Vavá impôs a sua qualidade e venceu por 5-2. O Brasil oito anos depois que o “Maracanazo” conseguiu levantar a Taça Jules Rimet.
Zito disputou seu terceiro Campeonato Sul-Americano em 1959. Ele foi do jogo nas partidas contra Peru, Chile e Bolívia que foram resolvidas com empate e duas vitórias respectivamente. No último dia tiveram que vencer os anfitriões no Monumental, mas o empate em uma final os separou do título. Nos anos seguintes, até a próxima Copa do Mundo, a seleção brasileira disputou outros torneios como a Copa O’Higgins ou a Copa Oswaldo Cruz. Na primeira, eles jogaram contra o Chile no Maracanã, onde venceram com um retumbante 7 a 0. Já nas edições do segundo em 1961 e 1962, venceu o Paraguai por um global de 2-5 e 10-0.
A Copa do Mundo de 1962 no Chile foi um verdadeiro desafio para a seleção brasileira. O objetivo era manter o título, algo que só a Itália havia conquistado em 1934 e 1938. Para isso, contou com um elenco de estrelas liderado por Pelé e Garrincha. Zito foi um dos destaques de Aymoré Moreira, que continuou a contar com o dueto com Dídi no meio. Os rivais na primeira fase também não foram fáceis, pois tiveram México, Tchecoslováquia e Espanha como companheiros de grupo. No primeiro dia eles venceram facilmente o México, mas no segundo a Tchecoslováquia mostrou seu poder ao conseguir um empate. O confronto também deixou más notícias para os brasileiros que viram como Pelé se machucou durante toda a competição. A partida contra a Espanha ia ser decisiva e eles começaram a perder. Os espanhóis conseguiram aumentar sua vantagem, mas foi anulada um pouco pelo árbitro local Bustamante. Já no segundo tempo Garrincha fez uma travessura pela banda e uma estrela em ascensão como Amarildo virou o placar. Nas quartas de final, em Viña del Mar, os ingleses não conseguiram parar os brasileiros e caíram por 3 a 1. Uma rodada depois, o adversário foi o Chile, apoiado por 77.000 torcedores em Santiago. Mas o Brasil prevaleceu sobre a atmosfera e com um duplo de Garrincha e Vavá foi para a final. Novamente eles jogariam contra a Tchecoslováquia, o único rival que não haviam vencido. Masopust colocou os centro-europeus na frente, mas Amarildo logo empatou. No segundo tempo Zito, que era o dono do meio-campo junto com Didí, faria o gol mais importante de sua vida. Ele mesmo roubou uma bola e avançou com força e determinação pela raia 10. Em seguida, abriu para a esquerda onde estava Amarildo que, após corte, cruzou para o poste mais distante para que o meia santista de cabeça fez 2 a 1 . Oito minutos depois, Vavá venceu Schrojf novamente e o Brasil conquistou a segunda estrela.
Os últimos jogos de Zito com a jaqueta verde-amarela foram na Copa Roca de 1963, onde venceu a Argentina, e vários amistosos contra Portugal, França e Alemanha Ocidental naquele ano e Peru, Tchecoslováquia e Escócia em 1966.
Sua vida pós-futebol continuou ligada ao Santos, onde foi treinador adjunto, diretor executivo de futebol ou vice-presidente. Ele foi um dos responsáveis pela chegada de Robinho, Diego ou Neymar ao clube santista ainda muito jovens.